domingo, 25 de setembro de 2011

Nuvem, nuvenzinha


Manhã fria. O Grande Astro nasce.
Vai demorar para esquentar,
Mas já começo a sentir,
Pela Luz do Sol na face,
Que o dia ficará quente.
Talvez não tão quente,
E sim aquele clima gostoso,
Com o vento levando o
Pensamento para longe,
No horizonte.

Como o dia está belo!

E que nuvem é aquela,
Solitária,
Passando e se transformando
Neste céu
Azul?
É uma nuvem, oras!
Só que não a vejo mais;
Só sei que ela ainda navega
No céu
Azul,
Solitária...

Solitária?
Não. Creio que não.
Os pássaros cantam para ela
E o Vento que a leva
Faz as folhas das árvores
(En)Cantarem.
Ou chorar.

Talvez estão dizendo adeus
À nuvenzinha
Solitária.
"Vá, nuvenzinha, ache outros
Lugares, outros mundos,
Voe, cresça.
Viva a arte de Viver!"

Sou uma nuvem, sentindo
Toda esta intensidade
Desta manhã prazerosa e...
Solitária?

Jamais!

Estou acompanhado da
Natureza
e do
Pensamento.


Gustavo Guimarães Ferri
Estudante de Psicologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

Fonte da imagem:
http://www.adibes.com.br/noticia_ver.asp?id=426

domingo, 28 de agosto de 2011

Manoel de Barros: o meu poeta

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.

Manoel de Barros (in: O livro das Ignorãças)
Fonte da imagem: paginasdeensaio.blogspot.com

Não oblitero moscas com palavras.
Uma espécie de canto me ocasiona.
Respeito as oralidades.
Eu escrevo o rumor das palavras.
Não sou sandeu de gramáticas.
Só sei o nada aumentado.
Eu sou culpado de mim.
Vou nunca mais ter nascido em agosto.
No chão de minha voz tem um outono.
Sobre meu rosto vem dormir a noite.

Manoel de Barros (in: O livro das Ignorãças)
Fonte da imagem: Google images.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A Caixa - The box - Gabriel Gomes

A CAIXÄ (the box) from Gabriel Gomes on Vimeo.

domingo, 7 de agosto de 2011

Poema de "Alexandre Lacerda Alves"

O que disfarça a nulidade do ser;
O que excita o pensamento humano;
O que exercita a dignidade do viver;
O que acalma o estouro do rebanho;
O que orienta liberdade descrita...
... nas asas dos pássaros voando?


O que pode poderosamente transformar,
Em lágrimas agora convertidas;
No que outrora fora impiedosa;
A morte vinda de mãos pervertidas?


O que pode qual bruma bondosa,
Visitar-nos aos sonhos – delírios,
Presenteando-nos com mão perfumosa,
Em belas ramagens, seus mais brancos lírios?


O que afinal reunir tanto poder,
sobre os campos, o fogo, rios e ares,
sobre fugidio encanto e seu dizer,
sobre a calmaria dos mares,
ou ainda o que não podemos saber?


O que é tanto amor e piedade,
O que é perdão sem levante,
O que é a brandura na agonia,
O que é força não estanque,
O que é a benção deste dia?


O que reúne o tudo e o nada,
O que atrai o fogo da espada,
Tanto quanto a carícia do perdão,
No deserto de tantos temores;
Dos que não se dão aos amores,
Cujos braços nos agasalharão,
E pacientemente esperam, sem retaliação,
Que o filho reconheça do pai a bondade,
Mesmo quando chora, pela maldade;
De uns poucos que lhe fogem;
Preferindo o encontro protelar,
Com a luz, sua força, sua paz,
Não entendendo quão fugaz
Tudo isto se torna,
Quando DEUS nos sorri,
E o resto ao nada retorna,
Porque tudo passa a ser amar.


Alexandre Lacerda Alves 
(Texto e imagem cedidos via página pessoal do Facebook)

sábado, 6 de agosto de 2011

Júbilo, Memória, Noviciado - Hilda Hilst

I

É bom que seja assim, Dionísio, que não venhas.
Voz e vento apenas
Das coisas do lá fora

E sozinha supor
Que se estivesses dentro

Essa voz importante e esse vento
Das ramagens de fora

Eu jamais ouviria. Atento
Meu ouvido escutaria
O sumo do teu canto. Que não venhas, Dionísio.
Porque é melhor sonhar tua rudeza
E sorver reconquista a cada noite
Pensando: amanhã sim, virá.
E o tempo de amanhã será riqueza:
A cada noite, eu Ariana, preparando
Aroma e corpo. E o verso a cada noite
Se fazendo de tua sábia ausência.


II

Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, Dionísio,
Que a teu lado te amando,
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
E que o teu corpo existe porque o meu
Sempre existiu cantando. Meu corpo, Dionísio,
É que move o grande corpo teu

Ainda que tu me vejas extrema e suplicante
Quando amanhece e me dizes adeus.


III

A minha Casa é guardiã do meu corpo
E protetora de todas minhas ardências.
E transmuta em palavra
Paixão e veemência

E minha boca se faz fonte de prata
Ainda que eu grite à Casa que só existo
Para sorver a água da tua boca.

A minha Casa, Dionísio, te lamenta
E manda que eu te pergunte assim de frente:
À uma mulher que canta ensolarada
E que é sonora, múltipla, argonauta

Por que recusas amor e permanência?


VI

Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.


VIII

Se Clódia desprezou Catulo
E teve Rufus, Quintius, Gelius
Inacius e Ravidus

Tu podes muito bem, Dionísio,
Ter mais cinco mulheres
E desprezar Ariana
Que é centelha e âncora

E refrescar tuas noites
Com teus amores breves.
Ariana e Catulo, luxuriantes

Pretendem eternidade, e a coisa breve
A alma dos poetas não inflama.
Nem é justo, Dionísio, pedires ao poeta

Que seja sempre terra o que é celeste
E que terrestre não seja o que é só terra.


IX

“Conta-se que havia na China uma mulher
belíssima que enlouquecia de amor todos
os homens. Mas certa vez caiu nas
profundezas de um lago e assustou os peixes.”



Tenho meditado e sofrido
Irmanada com esse corpo
E seu aquático jazigo

Pensando

Que se a mim não deram
Esplêndida beleza
Deram-me a garganta
Esplandecida: a palavra de ouro
A canção imantada
O sumarento gozo de cantar
Iluminada, ungida.

E te assustas do meu canto.
Tendo-me a mim
Preexistida e exata

Apenas tu, Dionísio, é que recusas
Ariana suspensa nas tuas águas.


X

Se todas as tuas noites fossem minhas
Eu te daria, Dionísio, a cada dia
Uma pequena caixa de palavras
Coisa que me foi dada, sigilosa

E com a dádiva nas mãos tu poderias
Compor incendiado a tua canção
E fazer de mim mesma, melodia.

Se todos os teus dias fossem meus
Eu te daria, Dionísio, a cada noite
O meu tempo lunar, transfigurado e rubro
E agudo se faria o gozo teu.

Fonte: http://www.hildahilst.com.br/obras.php?categoria=4&id=66

sábado, 23 de julho de 2011

Minha amiga LUIZA CASPARY: sucesso e carisma

Taí o 1º vídeo da série "At home with friends", e pra começar bem, uma música inédita da compositora Israelense e amiga Lilac Harel .

Então aí vai a ficha técnica de "Falling"

Luiza Caspary - voz solo
Composição - Lilac Harel
Arranjo da 4'33 formada por:
Andrio Maquenzi - Teclados, E-Bow/Guitarra e Backing Vocals.
Brenno Di Napoli - Baixo
Valmor Pedretti Jr. - Bateria, Percussão e Programações
Thiago Grün - Mixagem e Masterização

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mate na Praça, em Bagé/RS


Em 1973, Jorge Saes e um grupo de amigos começaram o (um) Mate na Praça, em Bagé.                                                                                                                            Jorge Saes




Sem muito esforço recordo do ano de 1973, data em que nasceu o Mate na Praça. A relação com José Carlos Teixeira Giorgis tem início quando, aluno do Colégio Estadual Dr. Carlos Kluwe, tive a honra de frequentar suas aulas. O Juca, como gosta de ser reconhecido, lecionava Biologia. Nas mãos, uma caixa de giz e um apagador.   Na lousa verde, deslizando o branco giz, os esquemas trazidos na memória surgiam. Discorrendo sobre fenótipos e genótipos, demonstrando, através do “Quadro de Punnett”, modelos de cruzamentos e as Leis de Mendel, ficávamos em silente aprendizado. Já o conhecia por sua participação na política, antes mesmo daqueles terríveis momentos de exceção que viveu o povo brasileiro. Aprendi a admirá-lo por sua atuação no mundo jurídico, mas o contestava como presidente do arquirrival inimigo vermelho e branco. Como craque de futebol, ao lado de Bochão e Quininho, possuía drible fácil dentro da grande área para concluir o gol, nunca de bico. Para mim, na época, um ser que deveríamos admirar a distância. Mais impossível tornava-se uma aproximação quando ele desfilava em seu flamejante Karmann Ghia verde pelas ruas de nossa Bagé. A vida teima, porém, fazer realizar o que pensamos impossível. Por voltas de 1966, fui trabalhar no Ofício dos Registros Especiais – Títulos, Documentos e Protestos de Títulos, como office boy, para ser, em futuro imediato, um Escrevente Autorizado. Um dia, nesta atividade, fui procurado pelo insigne professor, que também advogava, necessitando realizar uma notificação extrajudicial pelas bandas do Passo das Tropas. Haveria uma dificuldade para a execução do procedimento. Além do difícil acesso, difícil também seria encontrar o destinatário do documento, em seu endereço, no horário normal de funcionamento do cartório. Esclarecendo esta dificuldade, dei conhecimento ao titular do Ofício, nosso saudoso Tito Afonso Fabrício Barbosa, que logo anuiu à realização da visita em excepcionais condições. Dito e feito, marcada a data e o horário, foi realizado o ato sem danos nem perdas para as partes, sem entraves, como interessa a celeridade das coisas públicas. Estabeleceu-se, daí, um clima de confiança entre serventuário e advogado, também professor. Desde esta data, além do laço profissional, aos poucos, fomos cultivando um clima de sincera e cordial amizade, coisa pouco normal neste mundo de tão marcadas diferenças. Os encontros no pátio do Colégio Estadual, nos intervalos das aulas, ou recreio, foram inevitáveis. Somavam presenças naqueles rápidos momentos, João Maia dos Santos, Antoninho Ferreira, Kiwal Parera, Gesner Carvalho, Boaventura Miele da Rosa, o ex-colega Carlai, um craque de bola, dentre outros alunos e professores. Aos sábados pela manhã, Juca dirigia-se à Livraria Previtali, na Avenida Sete de Setembro, sem dúvidas, para colher os últimos lançamentos de livros que se uniriam à sua biblioteca jurídica ou aos clássicos herdados da origem paterna. Desses encontros, ficaram combinados reencontros para as manhãs de domingo. Objetivo? Tomarmos mate. Nas primeiras saídas, aos domingos, por volta da dez da manhã, Juca, já com seu Chevrolet Opala, cor de chocolate e capota de vinil preto, dirigia-se à Avenida Sete de Setembro, número 180. Com o chimarrão pronto, escolhíamos um lugar ao sol, ou à sombra, conforme a temperatura e as condições climáticas, em algum banco de praça. Juca, como sempre, muito assediado por amigos e populares. Alguns se tornaram seguidores. Passamos a receber visitas por saberem horário e local dos encontros domingueiros e em dias feriados. Eis que, oriundo de Porto Alegre, depois Dom Pedrito, ainda acadêmico de direito, Jorge Chagas associa-se ao grupo. Depois de alguns voejos, ficou resolvido que a Praça da Matriz  seria o palco central das conversas aleatórias ao sabor do doce amargo que aquece a vida. Em poucas palavras, assim foi que aconteceu a gestação e o nascimento do primeiro grupo. José Walter Maciel Lopes, ainda acadêmico de direito, agrega-se para se tornar mantenedor e incentivador, um pouco mais tarde. Vem, a seguir, Valdir Alves Ramos, Ito Carvalho, atual coordenador dos trabalhos, Edmundo Castilhos Rodrigues, Claudiram Nunes, Fernando Giorgis. Às vezes, faziam presenças o Dr. George Teixeira Giorgis, Décio Lahorgue, os irmãos Ferraz e tantos outros.  Notabilizou-se o Mate na Praça por ser um ponto de encontros e reencontros de amigos e parentes que chegam à Bagé. Recebemos muitas visitas. Por lá estivemos desde o início até l995, aproximadamente, com os aprestos - cuia, bomba, erva-mate e garrafas térmicas. José Walter também possuía sua estrutura. Mantemos guardada a primeira cuia com bocal de prata, testemunha desta narrativa, que, passada de mão em mão, foi transferindo o calor e a energia para solidificar uma instituição, “O Mate na Praça”.
Fonte: 
Texto escrito por Jorge Saes e enviado para o meu e-mail, juntamente com as fotos acima.



quinta-feira, 23 de junho de 2011

O encontro mágico do palhaço com a música

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A poesia de Manoel de Barros


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.

Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.

Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

Manoel de Barros


Passava os dias ali, quieto, no meio das coisas miúdas.
E me encantei.

Manoel de Barros





Sou mais a palavra ao ponto de entulho.
Amo arrastar algumas no caco de vidro,
envergá-las pro chão, corrompê-las, -
até que padeçam de mim e me sujem de branco.

Manoel de Barros







Poesia é voar fora da asa.

Manoel de Barros

Tentei descobrir na alma alguma coisa mais profunda do que não saber nada sobre as coisas profundas.
Consegui não descobrir.

Manoel de Barros


...que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc.
Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.

Manoel de Barros

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.

Manoel de Barros


Sou hoje um caçador de achadouros da infância.
Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos.

Manoel de Barros




 

O mundo não foi feito em alfabeto.
Senão que primeiro
em água e luz.
Depois árvore.

Manoel de Barros












Senhor, ajudai-nos a construir a nossa casa
com janelas de aurora e árvores no quintal.
Árvores que na primavera fiquem cobertas de flores
e ao crepúsculo fiquem cinzentas como a roupa dos pescadores.

O que desejo é apenas uma casa.
Em verdade, Não é necessário que seja azul,
nem que tenha cortinas de rendas.
Em verdade, nem é necessário que tenha cortinas.
Quero apenas uma casa em uma rua sem nome.

Sem nome, porém honrada, Senhor.
Só não dispenso a árvore,
Porque é a mais bela coisa que
nos destes e a menos amarga.
Quero de minha janela sentir
os ventos pelos caminhos, e ver o sol
Dourando os cabelos negros
e os olhos de minha amada.

Também a minha amada não dispenso, meu Senhor.
Em verdade ele é a parte mais importante deste poema.
Em verdade vos digo, e bastante constrangido,
Que sem ela a casa também eu não queria,
e voltava pra pensão.

Ao menos, na pensão, eu tenho meus amigos
E a dona é sempre uma senhora
do interior que tem uma filha alegre.
Eu adoro menina alegre,
e daí podeis muito bem deduzir
Que para elas eu corro nas minhas horas de aflição.

Nas minhas solidões de amor e
nas minhas solidões do pecado
Sempre fujo para elas, quando não fujo delas, de noite,
E vou procurar prostitutas. Oh, Senhor vós bem sabeis
Como amarga a vida de um
homem o carinho das prostitutas!

Vós sabeis como tudo amarga
naquelas vestes amassadas
Por tantas mãos truculentas ou tímidas ou cabeludas
Vós bem sabeis tudo isso, e portanto permiti
Que eu continue sonhando com a minha casinha azul.

Permiti que eu sonhe com
a minha amada também, porque:
- De que me vale ter casa sem ter
mulher amada dentro?
Permiti que eu sonhe com uma que ame
andar sobre os montes descalça
E quando me vier beijar faça-o
como se vê nos cinemas...

O ideal seria uma que amasse fazer comparações
de nuvens com vestidos, e peixes com avião;
Que gostasse de passarinho pequeno,
gostasse de escorregar no corrimão da escada
E na sombra das tardes viesse pousar
Como a brisa nas varandas abertas...

O ideal seria uma menina boba:
que gostasse de ver folha cair de tarde...
Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra,
E ficasse assustada quando ao cair da noite
Um homem lhe dissesse palavras misteriosas ...
O ideal seria uma criança sem dono,
que aparecesse como nuvem,
Que não tivesse destino nem nome -
senão que um sorriso triste
E que nesse sorriso estivessem encerrados
Toda a timidez e todo o espanto
das crianças que não têm rumo...

Manoel de Barros


Fonte das imagens:
http://www.google.com./

domingo, 12 de junho de 2011

Do desejo - Hilda Hilst

Quem és? Perguntei ao desejo.
                Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.


I
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que descanso me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.

II

Ver-te. Tocar-te. Que fulgor de máscaras.
Que desenhos e rictus na tua cara
Como os frisos veementes dos tapetes antigos.
Que sombrio te tornas se repito
O sinuoso caminho que persigo: um desejo
Sem dono, um adorar-te vívido mas livre.
E que escura me faço se abocanhas de mim
Palavras e resíduos. Me vêm fomes
Agonias de grandes espessuras, embaçadas luas
Facas, tempestade. Ver-te. Tocar-te.
Cordura.
Crueldade.

III

Colada à tua boca a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à luz do amanhecer.

IV

Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

Existe a noite, e existe o breu.
Noite é o velado coração de Deus
Esse que por pudor não mais procuro.
Breu é quando tu te afastas ou dizes
Que viajas, e um sol de gelo
Petrifica-me a cara e desobriga-me
De fidelidade e de conjura. O desejo
Esse da carne, a mim não me faz medo.
Assim como me veio, também não me avassala.
Sabes por quê? Lutei com Aquele.
E dele também não fui lacaia.
DA NOITE


III

Vem dos vales a voz. Do poço.
Dos penhascos. Vem funda e fria
Amolecida e terna, anêmonas que vi:
Corfu. No mar Egeu. Em Creta.
Vem revestida às vezes de aspereza
Vem com brilhos de dor e madrepérola
Mas ressoa cruel e abjeta
Se me proponho ouvir. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem do Nada.
Dos vínculos desfeitos. Vem dos ressentimentos.
E sibilante e lisa
Se faz paixão, serpente, e nos habita.

IV

Dirás que sonho o dementado sonho de um poeta
Se digo que me vi em outras vidas
Entre claustros, pássaros, de marfim uns barcos?
Dirás que sonho uma rainha persa
Se digo que me vi dolente e inaudita
Entre amoras negras, nêsperas, sempre-vivas?
Mas não. Alguém gritava: acorda, acorda Vida.
E se te digo que estavas a meu lado
E eloqüente e amante e de palavras ávido
Dirás que menti? Mas não. Alguém gritava:
Palavras... apenas sons e areia. Acorda.
Acorda Vida.

V

Águas. Onde só os tigres mitigam a sua sede.
Também eu em ti, feroz, encantoada
Atravessei as cercaduras raras
E me fiz máscara, mulher e conjetura.
Águas que não bebi. Crespusculares. Cavas.
Códigos que decifrei e onde me vi mil vezes
Inconexa, parca. Ah, toma-me de novo
Antiqüíssima, nova. Como se fosses o tigre
A beber daquelas águas.

VI

O que é a carne? O que é esse Isso
Que recobre o osso
Este novelo liso e convulso
Esta desordem de prazer e atrito
Este caos de dor dobre o pastoso.
A carne. Não sei este Isso.

O que é o osso? Este viço luzente
Desejoso de envoltório e terra.
Luzidio rosto.
Ossos. Carne. Dois Issos sem nome.


 Zeca Baleiro e Hild Hilst trabalhando no Júbilo Memória Noviciado da Paixão


Três luas, Dionísio, não te vejo.
Três luas percorro a Casa, a minha,
E entre o pátio e a figueira
Converso e passeio com meus cães

E fingindo altivez digo à minha estrela
Essa que é inteira prata, dez mil sóis
Sirius pressaga

Que Ariana pode estar sozinha
Sem Dionísio, sem riqueza ou fama
Porque há dentro dela um sol maior:

Amor que se alimenta de uma chama
Movediça e lunada, mais luzente e alta

Quando tu, Dionísio, não estás.

(Poema de Hilda Hilst, musicado por Zeca Baleiro)

Fonte do primeiro texto:

Com licença poética - Adélia Prado

 
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
− dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem,
Mulher é desdobrável. Eu sou.


Fonte da imagem: divinews.com

domingo, 5 de junho de 2011

Frederico García Lorca

Nascido numa pequena localidade da Andaluzia, García Lorca ingressou na faculdade de Direito de Granada em 1914, e cinco anos depois se transferiu para Madrid, onde ficou amigo de artistas como Luis Buñuel e Salvador Dali e publicou seus primeiros poemas.
Grande parte dos seus primeiros trabalhos baseia-se em temas relativos à Andaluzia (Impressões e Paisagens, 1918), à música e ao folclore regionais (Poemas do Canto Fundo, 1921-1922) e aos ciganos (Romancero Gitano, 1928).
Concluído o curso, foi para os Estados Unidos da América e para Cuba, período de seus poemas surrealistas, manifestando seu desprezo pelo modus vivendi estadunidense. Expressou seu horror com a brutalidade da civilização mecanizada nas chocantes imagens de Poeta em Nova Iorque, publicado em 1940.
Voltando à Espanha, criou um grupo de teatro chamado La Barraca. Não ocultava suas idéias socialistas e, com fortes tendências homossexuais, foi certamente um dos alvos mais visados pelo conservadorismo espanhol que, sob forte influência católica, ensaiava a tomada do poder, dando início a uma das mais sangrentas guerras fratricidas do século XX.
Intimidado, Lorca retornou para Granada, na Andaluzia, na esperança de encontrar um refúgio. Ali, porém, teve sua prisão determinada por um deputado católico, sob o argumento (que se tornou célebre) de que ele seria "mais perigoso com a caneta do que outros com o revólver".
Assim, num dia de agosto de 1936, sem julgamento, o grande poeta foi executado com um tiro na nuca pelos nacionalistas, e seu corpo foi jogado num ponto da Serra Nevada. Segundo algumas versões, ele teria sido fuzilado de costas, em alusão a sua homossexualidade. A caneta se calava, mas a poesia nascia para a eternidade - e o crime teve repercussão em todo o mundo, despertando por todas as partes um sentimento de que o que ocorria na Espanha dizia respeito a todo o planeta. Foi um prenúncio da Segunda Guerra Mundial.



AR DE NOTURNO

Tenho muito medo
das folhas mortas,
medo dos prados
cheios de orvalho.
eu vou dormir;
se não me despertas,
deixarei a teu lado meu coração frio.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Pus em ti colares
com gemas de aurora.
Por que me abandonas
neste caminho?
Se vais muito longe,
meu pássaro chora
e a verde vinha
não dará seu vinho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Nunca saberás,
esfinge de neve,
o muito que eu
haveria de te querer
essas madrugadas
quando chove
e no ramo seco
se desfaz o ninho.

O que é isso que soa
bem longe?
Amor. O vento nas vidraças,
amor meu!

Frederico García Lorca
"Mas o que vou dizer da Poesia? O que vou dizer destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo, e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada da poesia. Isso fica para os críticos e professores. Mas nem tu, nem eu, nem poeta algum sabemos o que é a poesia".
"Junta tu roja boca con la mía, 
¡Oh Estrella la gitana! 
Déjame bajo el claro mediodía 
consumir la manzana " Lorca





         Fotografias de Lorca





Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco en el mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura,
Ella sueña en su baranda.
Verde carne, pelo verde,
Con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
Las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

García Lorca 

Fonte das imagens:
As imagens foram retiradas do Google images.

sábado, 4 de junho de 2011

Carmo - Zeca Baleiro

Carmo
Zeca Baleiro


Pelas planícies escuras
Entre o asfalto e o aço
Meu braço enlaça o teu braço
E a noite joga o seu manto sobre nós
Gritamos mas
Ninguém ouve a nossa voz


Os pés desertos de espinhos
As mãos tateiam as trevas
A chuva rega a solidão
O coração sangra e pulsa
E nada mais importa
Mesmo a vida tanto faz


De conta
Que além da estrada torta
Uma rosa murcha e morta
Reviverá
Faz de conta que a mentira que se conta
Não é sonho nem verdade
Mas será


Queda-te me quedo
Queda-te me quedo
Queda-te em los brazos del viento

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Perfeição


Beijos roubados revelam segredos
eu não quero que saibam dos meus
secretos esconderijos
templos de luares,
dos poemas na areia-mares
e notívagas andanças
no bosque perdido da perfeição.

Tânia Marques  02 de junho de 2011



segunda-feira, 23 de maio de 2011

Luiza Caspary "Alone at home" - Get Shaky

O agitador - George Grosz - 1928

 
O agitador - George Grosz - 1928

"George Grosz (1893-1959), artista alemão, foi crítico irônico da guerra, da classe dirigente e de todo poder desmedido. Na tela O agitador, datada de 1928, o "agitador" é Hitler, que surgia no panorama da política alemã e assumiria o poder em 1933. Grozs exprime com sarcasmo o risco que ele representava e combateu-o de modo incansável. No período que antecedeu o governo nazista, a República de Weimar despertava insastisfações, às quais Hitler prometia atender: veja a comida e a bebida na parte superior do quadro. No entanto, no lado esquerdo, aparece a bota de cano alto, o cassetete de borracha e, em destaque, o tambor, com que Grosz insinua a famosa fala de Hitler: 'Eu não sou senão o tambor de reunir', prenunciando sua capacidade de aglutinação popular."

Fonte: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda & MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia: São Paulo, Moderna, 2009, p.119.

Grozs valeu-se da arte como uma arma poderosa para combater a sua insatisfação com a sociedade da época. As cores fortes e os traços bem definidos demonstram isso.
Tânia Marques

domingo, 15 de maio de 2011

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Prédios antigos no Centro de Porto Alegre
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quarta-feira, 11 de maio de 2011

"Nunca te vi, sempre te amei"

Eu já assisti a esse filme antes (...tudo começou em 1977), foi uma amizade muito linda!

Uma história de amor e gosto pelos livros, Nunca Te Vi, Sempre Te Amei apresenta os ganhadores do Oscar Anne Bancroft* e Anthony Hopkins atuando de forma excepcional. Helen Hanff (Bancroft), uma escritora mal humorada, envia uma carta a uma pequena livraria de Londres, solicitando algumas obras inglesas clássicas raras. Frank Doel (Hopkins), o discreto vendedor inglês de livros, atende a seu pedido, iniciando uma troca de cartas comovente e graciosa entre dois continentes por duas décadas. A aspereza de Hanff contrasta com o comportamento pomposo britânico de Doel, mas o amor mútuo aos livros forma entre eles um elo que se intensifica com o passar dos anos. Suas cartas íntimas e altamente detalhadas descrevendo seus sonhos, esperanças, sofrimentos e alegrias nos faz mergulhar no universo de suas vidas, e eles acabam desenvolvendo uma amizade notável e duradoura. 
Hoje, os meios são outros, mas os fins aparentemente são os mesmos!

domingo, 8 de maio de 2011

Encontros e despedidas - Maria Rita


Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero

Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir

São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida

Composição: M. Nascimento E F. Brant

Cambada do Levanta FavelA convida você para assistir:




 
‘’MARGEM ABANDONADA MEDEAMATERIAL PAISAGEM COM ARGONAUTAS’’
-TEATRO DE VIVÊNCIA-
NO CLUBE DE CULTURA
(RUA RAMIRO BARCELOS, 1853)
SEMPRE ÀS 20 HORAS.
Dias:
7,13,21 E 28 DE MAIO;
4,11,18 E 25 DE JUNHO
Ingressos a venda na bilheteria do teatro 1h antes da apresentação
R$ 20,00 inteiro e R$ 10,00 meia entrada.
A Cidade de Corinto está em chamas desde que a feiticeira Medeia foi abandonada por Jasão, seu homem. A traição do herói com a filha do rei a leva a assassinar os próprios filhos em uma sangrenta vingança. A saga da princesa de Cólquida, a perita do venenos, é revisitada desde sua fuga do lar paterno até sua aparição em outro tempo e outro espaço. Permeando a trama, surge a deusa Hécate, seu primeiro amor, inimiga da civilização, conduzindo Medeia por sua trilha de morte, levando-a a renascer em um retorno à barbárie. Jasão é condenado a vagar em uma paisagem infernal como expiação de seus crimes, um marinheiro em uma viagem sem fim, sedento em meio à água, assombrado por obscenidades, lançado à escuridão dos domínios de Tânatos, até, ciclicamente, reconhecer-se no teatro de sua morte.

sábado, 7 de maio de 2011

Pata de Elefante - Um olho no fósforo, outro na fagulha

Videoclipe da Banda Pata de Elefante, realizado pela Low Filmes com direção e montagem de Rafael Rodrigues e direção de fotografia de Glauco Firpo. Cantem com a Pata!!! fanfanfaran...!!!
Gente, belíssimo programa para domingo pela manhã, no Brique da Redenção. Por esses pequenos detalhes que eu amo demais Porto Alegre!

Saudade...

Hoje estou doendo de saudade, saudade de minha mãe, saudade dos tempos em que os compromissos não eram tão grandes, saudade da ilusão, saudade do verão e do mar, este que não o vejo há anos, saudade de uma amizade verdadeira, saudade do cheiro a campo, saudade da chuva na vidraça, saudade de um beijo de amor, saudade de um toque amigo, saudade dos sonhos juvenis, saudade de um abraço de urso...não quero ser melancólica demais, por isso eu vou parando por aqui e deixo vocês escutando e vendo esse belo vídeo que tem tudo a ver com o que eu estou sentindo neste exato momento. Beijos e um ótimo domingo a todos, o primeiro Dia das Mães sem a minha mãezinha querida (in memorium). Tânia Marques  07 de maio de 2011

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Músicas que marcaram os meus anos 90







Adriana Calcanhoto - Vambora

Salvador Dalí




Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech nasceu em 11 de maio de 1904, na cidade espanhola de Figueres (Catalunha). Foi um dos mais importantes artistas plásticos (pintor e escultor) surrealistas da Espanha.

Vida do artista, fases e estilo

Desde a infância, Dalí demonstrou interesse pelas artes plásticas. No ano de 1921, entrou para a Escola de Belas Artes de São Fernando, localizada na cidade de Madri. Porém, em 1926, foi expulso desta instituição, pois afirmava que ninguém era suficientemente competente para o avaliar.

Nesta fase da vida, conviveu com vários cineastas, artistas e escritores famosos, tais como: Luis Bruñel, Rafael Alberti e Frederico Garcia Lorca.

Em 1929, viajou para Paris e conheceu Pablo Picasso, artista que muito influenciou a produção artística de Dalí. No ano seguinte, começou a fazer parte do movimento artístico conhecido como surrealismo.

A década de 1930 foi um período de grande produção artística de Dali. Nesta fase, o artista representava imagens do cotidiano de uma forma inesperada e surpreendente. As cores vivas, a luminosidade e o brilho também marcaram o estilo artístico de Dalí. Os trabalhos psicológicos de Freud influenciaram muito o artista neste período É desta fase uma de suas obras mais conhecidas “A persistência da Memória”, que mostra um relógio derretendo.

Em 1934, Dalí casou-se com uma imigrante russa chamada Elena Ivanovna Diakonova, conhecida como Gala.

Em 1939, foi expulso do movimento surrealista por motivos políticos. Grande parte dos artistas surrealistas eram marxistas e justificaram a expulsão de Dalí, alegando que o artista era muito comercial.

Em 1942, Dali e sua esposa foram morar nos Estados Unidos, país em que permaneceu até 1948. Voltou para a Catalunha em 1949, onde viveu até o final de sua vida.

Em 1960, Dalí colocou em prática um grande projeto: o Teatro-Museo Gala Salvador Dalí em sua terra natal, que reuniu grande parte de suas obras.

Em 1982, com a morte de sua esposa Gala, Dalí entrou numa fase de grande tristeza e depressão. Parou de produzir e se recusava a fazer as refeições diárias. Ficou desidratado e teve que ser alimentado por sonda. Em 1984, tentou o suicídio ao colocar fogo em seu quarto. Passou a receber o cuidado e atenção de seus amigos.

Dalí morreu na cidade de Figueres, em 23 de janeiro de 1989, de pneumonia e parada cardíaca.

 Características de sua obra

Salvador Dalí ficou conhecido pelo seu trabalho surrealista. Os quadros de Dalí chamam a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, como nos sonhos, com excelente qualidade plástica.

Dalí foi influenciado pelos mestres da Renascença e foi um artista com grande talento e imaginação. Era conhecido por fazer coisas extravagantes para chamar a atenção, o que por vezes incomodava os seus críticos.
 

Fonte das imagens: Google
Fonte do texto:

sábado, 30 de abril de 2011

Giselle Beiguelman: arte nas aplicações multimídias


Giselle Beiguelman (1962) se destaca pelo trabalho em rede, envolvendo desde literatura e web art até mobile art, abrangendo pesquisa teórica associada à produção poética. Sua produção poética é reconhecida internacionalmente, tendo sido citada por inúmeros artigos e livros nas temáticas da cibercultura. É autora de livros e artigos de destaque, colaborando com revistas nacionais e internacionais. O trabalho com comunicação móvel faz parte de suas atividades desde 2001, o que a torna uma das pioneiras no Brasil nesse tipo de desenvolvimento. Suas obras acionam tanto o processo poético, quanto o estrutural da programação computacional e imbricamento de vários dispositivos. Suas atividades são bastante destacadas na organização e participação de eventos que fomentam a produção em mobile art, entre outras especificidades da arte. Entre suas realizações com dispositivos de comunicação móvel destacam-se “Wop Art” (2001) e “Filosofia da caixa prata” (2008), este realizado em Parceria com José Carlos Silvestre. Foi uma das ganhadoras do Prêmio Sergio Motta de 2003 (Brasil), além de, no mesmo ano, ter contado na lista “International media art award - the Top 50” do, ZKM (Alemanha) Os trabalhos da artista podem ser encontrados no seu site: http://www.desvirtual.com/.

Biografia

Doutora em história da cultura pela USP (1991), Giselle Beiguelman é professora do programa de pós-graduação em comunicação e semiótica da PUC/SP. Editora da seção Novo Mundo da revista Trópico (http://www.uol.com.br/tropico) e editora contribuinte do NMEDIAC, The Journal of New Media & Culture.Trabalha com criação e desenvolvimento de aplicações multimídia desde 1994, dedicando-se à Internet a partir de 1995. Foi bolsista Vitae, com projeto premiado na área de literatura e novas mídias (1999), membro do comitê científico do Isea 2000 (Paris) e fez parte das equipes de implantação do UOL e do BOL. Integra o arquivo de web arte da Rhizome e tem participado de vários eventos e exposições de web arte e cultura digital na Europa e nos Estados Unidos, como as pioneiras Net_Condition (ZKM, 1999) e (re)distributions (PDA, Information Apliance and Nomadic Art as Cultural Intervention) (voyd.com/ia). Desde 1998, Giselle Beiguelman tem um estúdio de criação digital, desvirtual.com, onde são desenvolvidos seus projetos pessoais,  como O Livro Depois do Livro (http://www.desvirtual.com/giselle), (http://www.desvirtual.com/nocache) e wopart (web site http://www.desvirtual.com/wopart e wap site http://tagtag.com/wopart).

Importância de sua obra
Giselle Beiguelman tem-se dedicado sobretudo às complexas relações existentes entre literatura e novos meios. Suas pesquisas ao mesmo tempo teóricas e criativas sobre essa relação produziram aplicações multimídia bastante densas, tais como O Livro Depois do Livro e Link-se, em que se discute e se experimentam as mudanças que estão ocorrendo no código e no suporte escrito a partir do surgimento dos meios digitais. Mais recentemente, Beiguelman tem voltado as suas indagações para as plataformas wireless (Palm e Wap), produzindo obras especificamente pensadas para difusão nesse circuito.




Fonte das imagens: 
Fonte do texto:

sábado, 23 de abril de 2011

Nilton Valle - Blues / Jazz / Rock Clássico - GUITARRAS (ACÚSTICA, ELÉTRICA E MIDI)



Poema em linha reta (Álvaro de Campos)



Álvaro de Campos*

Poema em Linha Reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.


*Heterônimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Só o tempo - Zizi Possi e Paulinho da Viola

sábado, 16 de abril de 2011

Turkish singers! Especial demais! I love it! Bayıldım!










Fotos: Leslie Netto Mendes

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Só hoje - Jota Quest

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Singularidade, diversidade e inclusão social



As políticas públicas e as práticas sociais permanecem limitadas pela noção de identidade; pelo socius dominante de segmentariedade... Somos nomeados, diagnosticados e classificados... ganhamos da vida uma identidade num socius que hierarquiza, exclui e normatiza a vida, para que ela não possa emergir na sua tresloucada diversidade...
Somos um código que nos liga a um sistema de cuidado, de intervenções e de repressão...
O mundo gira e não vê que não foi produtivo o ideário da normatização... Dos homens em série...
Somos impermanência, mudança, obra inacabada, projeto, um conjunto de tarefas... Somos o novo... Somos devires... E somos seres da diferença...
Criamos generalidades... Banalizamos a dor e a restringimos às nossas gavetas de classificados...
O homem genérico é uma mistificação; e uma crua e dura realidade na submissão que o inibe, suprime, evita a vida que brota e germina nas nossas vidas. A vida do seres humanos é singularidade e diversidade..
Incluir é fazer caber na cultura e na sociedade a singularidade e diversidade...
Os excluídos não são uma massa amorfa; desvitalizada; alienada de suas histórias, multiplidades de raízes e de sonhos... Se os encontramos, assim, encontramos o produto de uma sociedade segmentarizada e normativa, que subjetiva a diferença, negando-a, e criando corpos servis, submissos, incolores e invisíveis...
São corpos sucateados, mortificados, destemperados pelo mundo de homens cinzentos: brancos; burgueses; heretossexuais; endinheirados; vitoriosos; corpos malhados e plastificados; racionais e pragmáticos; com todas as aptidões sensoriais e mercantis (compradores, vendedores ou objetos comercializáveis)...
A inclusão social necessita superar a estigmatização, a discriminação e a marginalidade da diferença...
A inclusão social precisa dar voz e expressão, capacidade de existir, livremente para dos diferentes; e libertar as algemas e correntes do socius que suprime a diferença: singularidade e diversidade...
Somos hoje subjetividades capturadas: perdemos a vida e a expressão da nossas tribos...
"Somos todos desertos, povoados de tribos, floras e faunas" - afirma Deleuze... Pensamos, agimos, vestimos, amamos, convivemos, sonhamos, todavia, como se fôssemos todos filhotes adestrados do império... Vivemos à la plin-plin... Sonhamos hollywoodianos... Nossa cultura é a voz massificada da internet...
Um trabalho de inclusão social, assim, é fazendo um paralelo com as ideias do livro "Kafka: uma literatura menor", um trabalho de práticas sociais menores...
O menor não é inferior; nem a desvalia... é a ruptura radical com o pensamento, com o modo de viver, com as relações da "maioria", não numérica, mas dos dominantes, da hegemonia do Capital... interiorizado nas subjetividades excluídas como desvalia, apatia e despersonalização...
Um trabalho menor, na compreensão de Guattari percute a vida e agencia: a expressão viva e vitalizante da singularidade e do devir; coletiviza, rompendo a narcísica solidão do individualismo e a amorfa diluição das massas acríticas; e emerge militante...
A militância é motor, sustentação e produção de vida da inclusão da singularidade e da diversidade...
Na luta, nasce um porvir... uma utopia... um grupo sujeito...
A vida clama... ela é potência; ela é salto e efervescência... é o novo... o alvorecer...
E incluir é libertar a vida que foi um dia excluída dos caminhos onde trafegam a alegria e a liberdade, a poesia do porvir e a alteridade da diversidade e da diferença, que, se materializadas, atualizadas, dão ao mundo um novo brilho, pois, já não se pode viver e sonhar numa vida, assim, cruamente descolorida...

Fonte do texto e da imagem:

terça-feira, 12 de abril de 2011

Convite

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os dias da Comuna: a poesia na luta pelo futuro

O poeta e dramaturgo comunista Bertolt Brecht (10 de fevereiro de 1898 – 14 de agosto de 1956) renovou o teatro e a poesia exprimindo sentimentos revolucionários sob uma forma igualmente revolucionária, adequada a seu tempo e às suas contradições.

Militante comunista, foi combatente antinazista da linha de frente, engajando sua arte na luta pela democracia, pelo socialismo, contra o fascismo e o nazismo. Ligou a crítica ao nazismo ao combate contra a repressão característica do tempo de reação burguesa, da qual o bestial massacre da Comuna de Paris foi um marco.
A arte, propunha ele, precisa estar a serviço da luta operária, do progresso social e dos mais altos sentimentos de humanidade e solidariedade. É um instrumento, nesse sentido, de combate à alienação e ferramenta para despertar e consolidar a consciência de classe. Os dias da Comuna é um dos melhores exemplos da clareza e determinação que ilumina os escritos de Brecht.

Os dias da Comuna (*)
Bertold Brecht

1.
Considerando nossa fraqueza os senhores forjaram
Suas leis para nos escravizarem.
As leis não mais serão respeitadas
Considerando que não queremos mais ser escravos.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e com canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

2.
Consideramos que ficaremos famintos
Se suportarmos que continuem nos roubando
Queremos deixar bem claro que são apenas vidraças
Que nos separam deste bom pão que nos falta.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

3.
Considerando que existem grandes mansões
Enquanto os senhores nos deixam sem teto
Nós decidimos: agora nelas nos instalaremos
Porque em nossos buracos não temos mais condições de ficar.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

4.
Considerando que está sobrando carvão
Enquanto nós gelamos de frio por falta de carvão
Nós decidimos que vamos tomá-lo
Considerando que ele nos aquecerá
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos, de agora em diante
Temeremos mais a miséria do que a morte.

5.
Considerando que para os senhores não é possível
Nos pagarem um salário justo
Tomaremos nós mesmos as fábricas
Considerando que sem os senhores, tudo será melhor para nós.
Considerando que os senhores nos ameaçam
Com fuzis e canhões
Nós decidimos: de agora em diante
Temeremos mais a miséria que a morte.

6.
Considerando que o que o governo nos promete
Está muito longe de nos inspirar confiança
Nós decidimos tomar o poder
Para podermos levar uma vida melhor.
Considerando: vocês escutam os canhões
Outra linguagem não conseguem compreender
Deveremos então, sim, isso valerá a pena
Apontar os canhões contra os senhores!



(*) Com o título “Resolução”, este poema encerra a seção 3 da peça Os dias da Comuna que Brecht escreveu em 1948-1949, traduzida para o português por Fernando Peixoto.

Fonte da pesquisa:
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